segunda-feira, 12 de março de 2007

Viver, vício, virtude


Viver é um vício misterioso que consome pétalas da parte que possuímos com mais força: a essência. Começa como uma mania e se desenvolve por caminhos abertos pela primeira vez, como em todo vício, e de vez em vez, de dia em dia as semanas agarradas aos meses vão arrastando anos de um interminável ciclo do qual não se sai mais sem o fim.

Os caminhos dos dias. As trilhas indescritíveis dos eternos segundos de espera por qualquer coisa que possa não ser boa. Os resquícios do ano de importância da juventude que quase não sobram mais à memória. O vício consome tudo. Queima lentamente o fumo essencial do cachimbo que somos, fornilhos de vida com aroma variado e tons de cinza terroso.

Para exercitar a leitura das retinas que esfumaçam durante os dias e me aparecem durante a vida, eu comecei a tecer fumaça no fornilho de cachimbos. Senti a necessidade de desenvolver internamente uma mania que mais se aproximasse a um vício. Desenhado na cara de um defeito de conduta que se mascara de virtude nos estereótipos de senhores bem sucedidos ou com grande inteligência, como Sherlock Holmes ou até mesmo algum grande filósofo, ou então um homem, dentre os mais ricos, o de caráter mais humano.

Pensei controlar os passos. Mas fui ao espelho e vi um andarilho. Pensando controlar meu ar, meus ventos, quase cometi uma gafe contra o que sou. Perdi a razão completamente e não consegui controlar mais esta virtude de viciar. Viciei. Não em cachimbos. Em vidas. Fumo todas no cachimbo dos meus dias, no vício dos meus anos, na virtude da eternidade.

02 de dezembro de 2005

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