domingo, 18 de março de 2007




Minha morada é o sempre

Viver vagando é vocação para seres que vivem de pé assim como viver proseando é para os que vivem pelas letras. Vagar sem rumo é barco à vela no mar do sertão, prosear com pressa, pegar trem no ponto de ônibus. Ter moradia é quase controverso à intenção do abrigo, porém causa conforto e esquenta os pés. Achar cumplicidade com os cantos do lar, afinidade com os pêlos do tapete da sala e calçar chinelos felpudos quando inverno, de frente para a lareira. Pronto. Fundei meu lar. Ele fica longe.

Nas prosas dos botecos eu fundamentei as jornadas noturnas. Tombos. Resvalos. Rasurar é embriagar os dedos do poeta ou embaraçar os pés da bailarina. O tango é um grande desafio. Guimarães é por si um abismo quase inteiro. Os guetos, os becos, os bistrôs, os cabarés. Silêncio é, depois da música, a partitura mais completa das emoções inenarráveis. O jazz é um jeito de entender as estripulias dos dias. As locações descritas são minha pausa de mil compassos.

Eu sobrevivia na janela de um condomínio. Hoje pernoito festas na manção dos vagabundos virtuais. Simples, minha casa não permite muros, anda ordenando espaços vastos. Em verdade, o meu lar é lá bem fundo.

Os ontens foram muito freqüentados por gatos, moças, velhos. Re-visitei tantos hojes que o diário virou história. Meu amanhã cambaleia torpe. As palavras andam proseando ausência. As pernas não duvidam. Minha morada, no pois do então, se fincou ali. No sempre.

3 comentários:

Anônimo disse...

uma verdadeira arquitetura das palavras meu nobre homônimo, ou seria uma arquitetura com as palavras? "agradicido" estou por sua visita ao andarilho errante. dizem que o bom filho à casa torna, não é mesmo? pois bem, voltarei a esta casa com freqüência, fui bem recebido e gostei dos cômodos incômodos à estrutura semântica da lógica da linguagem. saravá!

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

Às vezes, o silêncio prenuncia
Suavidades ou fúrias, entropias,
Mudanças de ritmo ou de rota,
Transfigurações, sensações, sinfonias...

Às vezes, o silêncio adivinha
Novos movimentos, encantos ou vozes,
Reafinação do caos, do corpo, da alma,
Reconfigurações no cosmos, arroubos velozes...

Às vezes, o silêncio pressagia
Eclipses solares, chuvas, semeaduras,
Pinceladas divinas num jardim lylás,
Manhãs iluminadas ou noites muito escuras...

Às vezes, o silêncio prelude
Rufar de asas, árias de sereias,
Nascimentos lunares, sons de alaúde,
Danças no mar-cobalto, bailados nas areias...

Às vezes, o silêncio anuncia
Encontros musicais, finais, vitais,
Outros vôos e ventos, reuniões ou rompimentos,
No túnel do tempo sem fim, viagens espirais...


Abraços alados, poeta andarilho!

ANALUKAMINSKI PINTURAS disse...

E andar olhando a lua cheia???...

Abraço enluarado, alado, errante.

Palavras, estradas, poesia: portais para a descoberta do ser!