segunda-feira, 12 de março de 2007

Andarilho

Há pessoas demais caminhando pelo mundo em busca sequer de lugar para ir. Mas ainda há pessoas que transitam por todos os lugares que não buscam; todas as praças que não pensam; e todos os guetos que não cantam.

Há a inconsciente escolha de quem esparrama vida ao caminhar sem perceber. Querer ausentar-se da poeira que suja mais que sapatos. Desvincular-se do sangue que mancha algo além das ruas. Fantasiar cortesia a mais que conhecidos. Há culpa para cada escolha que nossa inconsciência nos disfarça.

Há caminhantes vorazes em traçar a unicidade de escolhas que não permitem culpas. A gana desta coragem vibra o desejo de chegar a lugar algum planejado. Quem acredita em sonhos que se movem sobre pés com direção sem sentido que não seja pressentido anda sempre beirando o esgotamento do verbo buscar.

Quem busca não procura culpa, desvenda atalhos. Desbrava medos toscamente maquiados. Pinta muro sem vandalismo ou crueldade, apenas marca o mundo. A assinatura do que caminha não tem letra, mas tem cheiro. Não é canto, mas tem umidade ou calor. Não se examina com a mão. Quem caminha, não rabisca. Deixa pegadas no chão.

Andarilho, 25-08-2004

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