sábado, 16 de agosto de 2008

Andar pra quê?




Eu pego a onda do ar e vou surrupiar novamente, mais uma noite andada ao norte, ao sul, ao rumo. Desço, subo, desço novamente. Subo até o ápice da memória de uma vida toda cheia de rasuras. Latas, enxurradas, bueiros, vaga-lumes. É o lume da vida, vida em vagões, vida em cem meadas, sem laço, descalça em chão de terra. Um reverso burguês.

E o que importa continua sendo meu rumo sem rumo, meu desnorteado senso sem norte, meu andar quicando entre todos os recantos. Continuo indo e vindo. Eu continuo.

A vida tem dado lições didáticas pontuais, no caminho, no entardecer, na boemia, nas cordas do violão. Eu sopro a noite com notas musicais que saem da clarineta, eu canto algumas histórias vividas, aprendi a me lambuzar sempre, com tudo, de todos. É bom demais, sô!

Alguns dias meus olhos ficam marejados, martelados com alguma saudade de tudo, de tantos, dobrados e multiplicados por sentimentos lindos.

Mas, nessas pontuações tão assim, desmedidas de regras, eu permaneço dês-pontuado, sem saber exatamente o para quê de tanta coisa, o para quê de toda a vida, o para quê disso.

Por isso mesmo sou um salto, por amar o que é vento.

Por tudo isso sou errante, por necessitar de não acertos.

Somando tudo eu devo ser pássaro, por não tolerar o limite do chão.

Sou sim, um andarilho, louco errante que ‘cronifica’ a vida.


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Carna-Váu

A toa toa, toda hora passa o tempo de esperar. Assentado num balanço roendo o condão que sustenta o sono, bocejando a tarde, engolindo o início do findar do dia, a noite serena com a lua a brilhar sozinha, sem estrelas comparsas, cúmplices, companheiras.

Com poesia que baila e a lancinante vontade de pairar os pés nas poeiras acho que repuxei o menino que caminha nos vãos da história. Puxa trapo, trança troça, tece tanto na ciranda, brinca e roda de afoxé, rebate no repique na baqueta e no maracatu, joga frevo na viola, ascende praça e é carnaval.

Volta todo bailoso, cheio de trama, deliciado e todo pária, escorregado em os becos, voltado de lá, voltado de cá, de qualquer lugar. Veio andando, distraído, concentrado, como jaguar caçando borboletas.