segunda-feira, 12 de março de 2007

De amigos e de túnel



É que nos vãos salientaram vidas corridas a galopes incertos rumando os escuros e beirando os desertos aonde as almas não vão nunca. Desesperaram os pés em busca de britas dorminhocas no escurinho molhado do túnel dos amigos. Luzes de cá e de lá. Entre elas, eles (e ela).

Em sábado de manhã concluíram idéia desenhada em sexta à noite. Levantaram frios por baixo dos calores acobertados por edredons quentes. No pré-inverno a preguiça mostra as feições com manha de gatos, faceirices no outono. Acompanhada conseqüentemente pelo abraço das camas e o gélido do frio ar que boceja as janelas e vasculantes, a preguiça esteve. Houve mesmo assim de cumprirem o fato combinado: levantar e rumar caminho de trem. Agasalharam pés, corpos e garrafas de água. Entocaram cabeças e deram laços nos pescoços com cachecóis. Pisaram o fora e este se fez ao abrir o mundo para todos.

Passos, pés, pedras, paus. Dormentes dispostos depois de dezoito dedos. Sem jeito de ser, vendo frases dispostas em iniciais de pês e dês, o sol espiou entre as nuvens do céu. Na verdade, concluo meu achar achando que ele veio mesmo foi ver o trem. Este passou por nós três vezes tremendo trilhos tiritantes. Assomou na gente: medos, tremores, alegrias, sons, saudades...

Andando sempre de dor em dor, assim, em dormentes, chegamos até o beco da boca da casa do trem: “o túnel”. Sombra pura. Breu escuro. Fim de mundo, início do imaginário dos quatro. Muito medo. Muito sonho. Hollywood: foi como cinema! Gritos, sussurros, um único entrar de luz do céu no jardim-de-inverno erguido pelo vandalismo natural das intempéries: uma janela aberta do teto para cima vazando cascata de sol para dentro do escuro.

Atravessamos o túnel. Quase desistimos de concluir a missão. No repente do absoluto, na destreza do destino, ali, neste quase entre o agora e o quase-já, a decisão formou conteúdo no clima do pra-sempre do momento. E então, depois da lembrança do impulso de ir por vãos salientes da boca até o gargalo, nós simplesmente cruzamos o túnel de volta.

Em minha família tem muita gente que atravessa túnel (e atravessam de volta). “Viver nem é muito perigoso”. Nós, que vivemos no sertão de Guimarães descobrimos o intento deste real ditado cruzando túnel.

dia 30 de junho de 2006

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