segunda-feira, 12 de março de 2007

Trilogia resolvida em fim de três atos. Um inexato, outro um pouco incoerente e este terceiro inigual. Parentes próximos de mesma descendência: alma de poeta que sofre por existir. Alma caminhante que existe e vaga pelo mundo, cambaleando nas esquinas, bebendo nos cabarés, rodopiando pelas ruas em madrugadas. Viver não é sofrer, é eterno vagar dançando valsa... sambando um lindo samba em três.

Inigual

Carrego comigo sempre um pedaço de solidão. Cantada em coro ou bebida em solo – quando melhor me acompanha ou quando eu melhor aprazo a ela. De certo modo a solidão me conforta, alimenta a loucura que em pormenores me unifica. Como louco me destaco da normal bestialidade. Do estar só em meio a muitos a intenção se faz dizer, é impossível rotular.

Vou vivendo só e louco, como a vida precisar. Dois em um no meu amor, que por momento se mostra neutro. O palco? Aguarda cada vez mais se estruturando entre pecados, riscos e confissões. O sol é a cortina, um brilho de olhar é compaixão pelo ator, a noite é o espetáculo, e o palco.... minha alma.

27, 05, 2005

Os passos que compuseram a trilogia:

primeiro – Inexato

Eu pretendo, ainda, estrear um palco. Vou brilhá-lo por idolatria da intenção do seu próprio espaço – fábrica geradora de sonhos e de calos. Vou construindo, aos poucos, este palco cá comigo, cá em mim.

O meu grande problema é que acho insuportavelmente difícil falar de palco e não citar cortinas, histórias, luzes e coxias. Esta é a arte metalingüística no ideal: falar e falar, como num ensaio, de um assunto no outro sem evidenciar-se tautológico ou não sincero.

Minha tautologia se esquiva na amiga e canastrona subjetividade. Esta irmã mais velha que no fundo me compreende e denuncia como a liquidez de meus olhos. Julgo-a tão traidora que a utilizo para ludibriar-me dizendo-vos meus mais íntimos pareceres de prazer. Minha raiva é que não a controlo. Cuspo-a no palco, que acaba se evidenciando. E olha que eu quase já não percebia sua permanência inerte de manufator de loucuras – estas que desafiarei no picadeiro a se inaugurar.

Vou criar um espaço para competir-me! A cada longo texto, um bloco desconcertado se alinha na boca-de-cena. E a cada espetáculo uma loucura saltitará do limiar da honestidade. Perfeito! De início, me falta explicar a loucura...

segundo – Incoerente

Loucura é um sutil limiar entre o que se há de melhor fazer e filosofia. Pois em meio a loucuras de amor, ousadias da vida, noites viradas e idéias falidas, existe a intenção realizada por alguém tido como louco por ter tido coragem de fazer mais que apenas pensar sobre. Um louco é alguém que amou tanto que fez amar, que fez amor.

A filosofia da loucura se encontra justamente no limiar que esta é. Região baldia que separa clara luz de dia de insanidade noturna. É o questionar da vida de certo e errado, bem e mal. É estar num campo liso e aberto, mas trancado – é acreditar num céu sem a existência de um diabo.

É este o louco milagre. Quando não se acha uma resposta esbarra-se em mais duas ou três perguntas. Por que esboçar o bem e o mal emprestando-lhes dois senhores à nossa semelhança? Para que filosofar utilizando a tão técnica filosofia? Sou eu apenas mais um louco? Graças a deus.... E isto é almejar satisfazer um tema.

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