
“O andarilho não doutrina, não dogmatiza, não prega. Nem sequer aprender o andarilho aprende. Caminha. Traça, trilha, vagueia, perambula, rodopia, cata cavaco. No final de cada ciclo regurgita suas estripulias de anjo torto; balbucia o que lhe parece ter vivido. Nunca conta a verdade estrita, mas apenas o pedaço que lhe coube lembrar.”
Tudo começou em um ponto único da caminhada de alguém que estava sempre a andar, e o ponto era: não se ter aonde chegar. Sem rumo ou placa que satisfizesse qualquer busca, esta criatura vagou pelos recantos das Minas, dos mundos, deste Brasil louco e errante a toda hora.
Saído do rumo dos trilhos há quase um ano exato, começo a cair dos festejos de aniversário em texto, em crônica, às vezes em verso de poeta mais seresteiro do que outra coisa qualquer. Varador de noite em prosa solta, violeiro cantador de mulher bonita, galanteador de noite e sedutor de lua.
Sem saber bem o que sou, e nem mesmo para quê sou, sei que fui por um ano um mendigo de almas. Sim. Mendigo. Pedinte. Esmolei atenção de tantos e tantas, clamei por ouvidos, por olhos, e agradeci cada sorriso, cada gesto, cada silêncio. Fiz serenata ao som de jazz com loucos, rezei procissões inteiras, sorri com mulheres carpideiras, joguei dama com senhor
“Quem caminha com rumo decidido não anda nem busca, apenas chega. Ofício de andarilho é trilhar os labirintos visitados sem preocupar-se com os sinais ainda não adivinhados. A ordem é iniciar em direção aleatória e abusar de excessos. Simples como mirar pássaros no céu: eles estão sempre a voar desesperadamente desenhando rotas, criando caminhos. Duvido que caminhando eu ultrapasse algum excesso de velocidade. Duvido que voando eu me preocuparia com isso.”
Viver demanda tempo. Tempo se repete
continua...
12 de agosto de 2005
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