segunda-feira, 12 de março de 2007

Maria das Telas


Plim!! Uma gota de tinta molhou com brilho a tela da menina Maria enquanto escorregava em nuvens brincando de voar rabiscando com dedo o vôo de uma borboleta na parede azul da casa na sala da avó. Tinha oito meses quando pintou belas montanhas e um sol confuso com sopa de feijão na camiseta da mãe. Maria nasceu para as telas assim como elas nasceram para ela.

Cresceu correndo longe da fumaça do cachimbo do senhor diretor da senhora escola onde menina senhorita estudava. Cheirava mansa enquanto levada, não copiava matéria, desenhava em folhas suas pinturinhas primeiras, iniciais. Quando mansinho inspirava aquele cheiro achocolatado de fumaça de cachimbo, Maria das Telas assentava assídua e atenta à espera do diretor. Nunca soube, mas desconfiou ser esta sempre uma tática, jamais uma distração.

Nos caminhos juvenis Maria foi borboleta serelepe, saltitante, sempre viva, borboleta artista! Pintadora autêntica dos intrínsecos da gente. Pintou tão assim que escorregou de quadros, ultrapassou molduras, varou céus e estrelas. Pintou gentes andando, praças da cidade com azulejos bonitos, fornilhos de vidas, olhos azuis pintados por asas de borboletas.

A cada ciclo renasce Maria. Menina faceira que brinca de quadros. Esquadrinha vidas em seu lápis raro, volta e meia escorrega. Telas que nasceram para Maria. Maria que nasceu para as Telas.

31 de março de 2006,

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