segunda-feira, 12 de março de 2007

Nascer, verbo que renasce



E se o ano acabasse sem sombra ou sobra de meus passos pelo desavesso do mundo no instante em que o mundo recomeça virando de ano e parindo um novo rumo de trilha de recomeço? Penso somente que assim eu não haveria de poder ser o tal de andarilho que anda vagando por bandas perdidas desde sua invenção. Invenção criada em verso, prosa e poesia que se fez cantada e pedida em roda de viola de praça de interior de cidade curta e pequena por mais que demais. Pelas sobras do dentro de tudo que há no meu mundo eu caminho e recaminho pelas trilhas do fim deste dois mil e cinco que finda com estrela cadente entre morros no ventre de Minas.

E se não surgisse no peito esse desespero que me arrancou da cama e me fez pular de frente a papel, caneta e sonhos para dizer que ainda vivo estou muito aceso e louco pela vida que vai renascer entre amanhã e o novo ano? Já nem somente penso como apenas vivo clamando o calor dos dias, a ansiedade das noites, o vendaval dos suspiros, a inquietude do novo amor, o despertar dos anjos, o enlaçar dos abraços, o desejar das moças, a fúria dos jovens.

E se mais que demais fosse fraca a dor do peito que clama por tanta beleza na vida? E se mais que demais clamasse cada vez mais forte a dor do peito que anseia por vida, com beleza, com aspereza, com dureza ou realidade? Seria a prova dos mitos de fênix que renascem de cinzas e excomungam o mau agouro que encurralou a essência da vida plena dentro de algum cômodo mofado.

Mas então surgiu de novo a chama da vela da libertação entre o homem e o menino. No canto do peito brilhou a estrela juvenil da ingenuidade. Nos ramos do jardim nasceu pé de alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Com cantiga de ninar, com sonhos não escritos, com vida no ventre de umas minas de vida de gente bela... assim, sem menos ser por demais escasso, o que se diz andarilho andou mais e mais noites a dentro afora com as dores do mundo.

Renascer não é preciso, mas é, quase sempre, necessário. Feliz 2 mil e 6 a todos.

30 de dezembro de 2005

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