sexta-feira, 14 de maio de 2010

Viajante




Ir para os tantos lugares, visitar as todas casas. Ser aqui e lá, no meio do entre. Andando sou só caminho, infinitude, profundeza de possibilidades.

A cada mergulho dentro de alguém me devolvo ao mundo alargado, com maiores horizontes na essência. Fico cada vez mais disposto ao tudo, ao sempre estrear uma outra utopia, viver sol e ser lua.

Chuva de estrela cadente só se vê no alto do morro, na contemplação do olhar para cima. À noite eu caio, mas sem perder o brilho.

Sou poeira do universo que transborda pelos poros os raios de si, esperando o brilho voltar refletido nos olhares, nos sorrisos.

Misturo-me aos tantos e, mesmo com manto breu de fundo, brilho sem parar, brilho até raiar, brilho até cair.

Sem tamanho certo ou dimensão precisa eu ocupo, transito, parasito, participo. De mesa em mesa e canto em canto eu rodo canto encanto tanto que vou voltando, indo e vindo, ali e lá, pra variar, perambular.

Andarilho Louco Errante
Santo Grão, 02.jul.2009

sábado, 16 de agosto de 2008

Andar pra quê?




Eu pego a onda do ar e vou surrupiar novamente, mais uma noite andada ao norte, ao sul, ao rumo. Desço, subo, desço novamente. Subo até o ápice da memória de uma vida toda cheia de rasuras. Latas, enxurradas, bueiros, vaga-lumes. É o lume da vida, vida em vagões, vida em cem meadas, sem laço, descalça em chão de terra. Um reverso burguês.

E o que importa continua sendo meu rumo sem rumo, meu desnorteado senso sem norte, meu andar quicando entre todos os recantos. Continuo indo e vindo. Eu continuo.

A vida tem dado lições didáticas pontuais, no caminho, no entardecer, na boemia, nas cordas do violão. Eu sopro a noite com notas musicais que saem da clarineta, eu canto algumas histórias vividas, aprendi a me lambuzar sempre, com tudo, de todos. É bom demais, sô!

Alguns dias meus olhos ficam marejados, martelados com alguma saudade de tudo, de tantos, dobrados e multiplicados por sentimentos lindos.

Mas, nessas pontuações tão assim, desmedidas de regras, eu permaneço dês-pontuado, sem saber exatamente o para quê de tanta coisa, o para quê de toda a vida, o para quê disso.

Por isso mesmo sou um salto, por amar o que é vento.

Por tudo isso sou errante, por necessitar de não acertos.

Somando tudo eu devo ser pássaro, por não tolerar o limite do chão.

Sou sim, um andarilho, louco errante que ‘cronifica’ a vida.


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Carna-Váu

A toa toa, toda hora passa o tempo de esperar. Assentado num balanço roendo o condão que sustenta o sono, bocejando a tarde, engolindo o início do findar do dia, a noite serena com a lua a brilhar sozinha, sem estrelas comparsas, cúmplices, companheiras.

Com poesia que baila e a lancinante vontade de pairar os pés nas poeiras acho que repuxei o menino que caminha nos vãos da história. Puxa trapo, trança troça, tece tanto na ciranda, brinca e roda de afoxé, rebate no repique na baqueta e no maracatu, joga frevo na viola, ascende praça e é carnaval.

Volta todo bailoso, cheio de trama, deliciado e todo pária, escorregado em os becos, voltado de lá, voltado de cá, de qualquer lugar. Veio andando, distraído, concentrado, como jaguar caçando borboletas.