quarta-feira, 13 de junho de 2007

De noite


A estrada enveredou rumo adentro das noites antes que qualquer veículo pudesse vislumbrar as lágrimas derramadas da lua. Essa noite derramou desandanças pelas vielas dos quartos, amarrou porteiras com correntes enferrujadas, desalumiou os becos, desascendeu os postes. A noite dormiu o mundo.


Houve passos mudos. Ouvi o assoalho resmungar vagações. Dentro de si, o quarto fechou as portas, trancafiou as paredes e puxou o blackout. Dentro do mundo do quarto fechado estavam os milhares de dias escritos, os quilômetros lidos e relidos, os volumosos dias desenhados em grãos chineses de arroz pequenino. Uma estante de alucinações, dentre elas a prateleira dos delírios, a enciclopédia dos sonhos, os fascículos sobre a mente da alma humana que raciocina sempre sobre o coração. A mitologia das horas, inconsertável, inadiável, incompreensível. O tempo viveu as horas. O mundo esperou a vida. Ela foi.


O mundo vão. A gente somos. A vida ia sempre fondo. O tempo fundiu. A gente nem percebemos. A vida passaram pelo mundo. O mundo estará sendo inadiavelmente o palco da tempo brincar de passear com os gentes pelo vida. A gente sã.

Qualquer filosofia sem gramática entende o que ninguém jamais quis dizer.


Tentaram desaperceber o desapercebido. Ele, se apercebendo, continuou.


E dentro do quarto os espelhos refletidos de luz foram holofotes. Bombearam a face de dentro do coração da alma do apercebido. Ele brilhou a lua. A noite sorriu. Os caminhos então rumaram vida. O andarilho foi.